domingo, 18 de dezembro de 2011

Terceira Carta às Esquerdas - por Boaventura de Sousa Santos

Quando estão no poder, as esquerdas não têm tempo para refletir sobre as transformações que ocorrem nas sociedades e quando o fazem é sempre por reação a qualquer acontecimento que perturbe o exercício do poder. A resposta é sempre defensiva. Quando não estão no poder, dividem-se internamente para definir quem vai ser o líder nas próximas eleições, e as reflexões e análises ficam vinculadas a esse objetivo.

Esta indisponibilidade para reflexão, se foi sempre perniciosa, é agora suicida. Por duas razões. A direita tem à sua disposição todos os intelectuais orgânicos do capital financeiro, das associações empresariais, das instituições multilaterais, dos think tanks, dos lobbistas, os quais lhe fornecem diariamente dados e interpretações que não são sempre faltos de rigor e sempre interpretam a realidade de modo a levar a água ao seu moinho. Pelo contrário, as esquerdas estão desprovidas de instrumentos de reflexão abertos aos não militantes e, internamente, a reflexão segue a linha estéril das facções.

Circula hoje no mundo uma imensidão de informações e análises que poderiam ter uma importância decisiva para repensar e refundar as esquerdas depois do duplo colapso da social-democracia e do socialismo real. O desequilíbrio entre as esquerdas e a direita no que respeita ao conhecimento estratégico do mundo é hoje maior que nunca.

A segunda razão é que as novas mobilizações e militâncias políticas por causas historicamente pertencentes às esquerdas estão sendo feitas sem qualquer referência a elas (salvo talvez à tradição anarquista) e muitas vezes em oposição a elas. Isto não pode deixar de suscitar uma profunda reflexão. Essa reflexão está sendo feita? Tenho razões para crer que não e a prova está nas tentativas de cooptar, ensinar, minimizar, ignorar a nova militância.

Proponho algumas linhas de reflexão. A primeira diz respeito à polarização social que está a emergir das enormes desigualdades sociais. Vivemos um tempo que tem algumas semelhanças com o das revoluções democráticas que avassalaram a Europa em 1848. A polarização social era enorme porque o operariado (então uma classe jovem) dependia do trabalho para sobreviver mas (ao contrário dos pais e avós) o trabalho não dependia dele, dependia de quem o dava ou retirava a seu bel prazer, o patrão; se trabalhasse, os salários eram tão baixos e a jornada tão longa que a saúde perigava e a família vivia sempre à beira da fome; se fosse despedido, não tinha qualquer suporte exceto o de alguma economia solidária ou do recurso ao crime. Não admira que, nessas revoluções, as duas bandeiras de luta tenham sido o direito ao trabalho e o direito a uma jornada de trabalho mais curta. 150 anos depois, a situação não é totalmente a mesma mas as bandeiras continuam a ser atuais.

E talvez o sejam hoje mais do que o eram há 30 anos. As revoluções foram sangrentas e falharam, mas os próprios governos conservadores que se seguiram tiveram de fazer concessões para que a questão social não descambasse em catástrofe. A que distância estamos nós da catástrofe? Por enquanto, a mobilização contra a escandalosa desigualdade social (semelhante à de 1848) é pacífica e tem um forte pendor moralista denunciador.

Não mete medo ao sistema financeiro-democrático. Quem pode garantir que assim continue? A direita está preparada para a resposta repressiva a qualquer alteração que se torne ameaçadora. Quais são os planos das esquerdas? Vão voltar a dividir-se como no passado, umas tomando a posição da repressão e outras, a da luta contra a repressão?

A segunda linha de reflexão tem igualmente muito a ver com as revoluções de 1848 e consiste em como voltar a conectar a democracia com as aspirações e as decisões dos cidadãos. Das palavras de ordem de 1848, sobressaíam liberalismo e democracia. Liberalismo significava governo republicano, separação entre estado e religião, liberdade de imprensa; democracia significava sufrágio "universal” para os homens. Neste domínio, muito se avançou nos últimos 150 anos. No entanto, as conquistas têm vindo a ser postas em causa nos últimos 30 anos e nos últimos tempos a democracia mais parece uma casa fechada ocupada por um grupo de extraterrestres que decide democraticamente pelos seus interesses e ditatorialmente pelos interesses das grandes maiorias. Um regime misto,
uma democradura.

O movimento dos indignados e do occupy recusam a expropriação da democracia e optam por tomar decisões por consenso nas suas assembleias. São loucos ou são um sinal das exigências que vêm aí? As esquerdas já terão pensado que se não se sentirem confortáveis com formas de democracia de alta intensidade (no interior dos partidos e na república) esse será o sinal de que devem retirar-se ou refundar-se?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Indivíduos na coletividade

Os historiadores chamam isso de "herança colonial". O povo brasileiro não vota em partidos, mas em pessoas. Não vota em programas ou projetos, mas em indivíduos. Depois que o Brasil perdeu seu referencial de poder (a coroa portuguesa), mudou a estrutura de poder. Não era mais uma pessoa que centralizava as decisões: na república, as decisões do presidente eram submetidas a votação. No entanto, os  eleitores ainda justificam seu voto neste ou naquele candidato porque "ele vai fazer tal coisa". Herança colonial: o presidente não é rei, não tem liberdade para fazer qualquer coisa.

Na universidade, há uma estrutura hierárquica de tomada de decisões, mas o reitor não é REI. Todas as decisões do reitor devem ser apreciadas pelo Conselho Superior. Na gestão passada, tivemos um reitor que driblava o CONSUN com decisões ad referendum. Na gestão passada, o CONSUN não se reunia regularmente. Na gestão passada, os conselheiros agiam como indivíduos desligados uns dos outros, que não trabalhavam pelo bem da coletividade: o bom funcionamento da universidade.

Tanto na república como na universidade, deve prevalecer a democracia, ou seja, todos participam da tomada de decisões. O trabalho agora consiste em fortalecer a coletividade. A universidade precisa abandonar seu caráter de faculdades integradas, em que cada indivíduo, departamento ou núcleo faz o que bem entender. A universidade não precisa eleger um(a) reitor(a), mas um grupo coeso de pessoas que se comprometam com a administração da universidade. E quanto mais pessoas houver fiscalizando o processo, menos corrupção acontecerá.

Qualquer professor (doutor) pode ser candidato a reitor e quem determina quem será o dirigente máximo da universidade não é o destino, o berço nem o Papa. Já tivemos um indivíduo centralizador sentado na cadeira do reitor. Precisamos aprender com as armadilhas do poder concentrado num indivíduo e arriscar uma gestão compartilhada.

É preciso lembrar que o ex-reitor renunciou depois das denúncias de desvio de verbas e depois que sua vida pessoal foi exposta. Se houver gestão compartilhada, a vida pessoal d@ reitor(a) não será interessante para a oposição, já que o poder não estará centrado na figura d@ reitor(a), pois a responsabilidade pela universidade estará disseminada pela sua equipe de conselheiros, pró-reitores, acessores e fiscalizadores.

O calendário acadêmico

pode ser encontrado no site da UNIR, seguindo o seguinte caminho: Reitoria> Conselhos - SECONS> CONSEA> Resoluções.


a
Resolução 265/CONSEA, de 13 de dezembro de 2011.

Adaptação do Calendário Acadêmico para o segundo semestre de 2011.

A Presidente do Conselho Superior de Acadêmico (CONSEA), da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), no uso de suas atribuições e considerando o Memorando 434 de 06/12/2011 – PROGRAD:
Parecer 1132/CGR, do Relator Conselheiro Adilson Siqueira de Andrade;Deliberação na 107ª sessão da Câmara de Graduação, em 09 de dezembro de 2011;Deliberação na 56ª sessão do Plenário do Conselho Superior Acadêmico, 09 de dezembro de 2010,



R E S O L V E:


Art. 1º - Aprovar a adaptação do Calendário Acadêmico para o 2º semestre do ano letivo de 2011, com inicio 25. 07.2011 e término em 24.03.2012. 
Parágrafo único. Os cursos que não participaram da greve poderão desenvolver atividade no inicio de 2012 tais como oferta de disciplinas especiais, cursos especiais, cursos de extensão, cursos sequenciais e atividade de pesquisa. 
Art. 2º - Tornar válidas as aulas ministradas no período de 14/09/2011 a 04/12/2011 nos cursos que não entraram em greve. 
Art. 3º - Os discentes que tiverem sido reprovados por faltas aplicadas no período de 14/09/2011 a 02/12/2011 e recorrerem aos departamentos deverão ser atendidos por docente que complemente as aulas do período, aplicando as avaliações pertinentes, inclusive como acompanhamento especial, registrando o resultado ao final. 
Art. 4º – Fica facultado aos Departamentos acadêmicos juntamente com os Conselhos de Núcleos e/ou de Campi da UNIR, sem prejuízo do cumprimento dos 100 (cem) dias letivos, a administração das atividades acadêmicas, obedecendo ao presente Calendário Acadêmico. 
Art. 5º - Fica facultado aos Conselhos de Campi/Núcleos adaptarem o calendário para os cursos diferenciados. 
Art. 6º - Ficam validadas as atividades inerentes aos estágios curriculares realizados no período de 14/09/2011 a 04/12/2011. 
Art. 7º - Esta Resolução entrará em vigor a partir desta data. Ficam revogadas as disposições em contrário. 
Profª Drª Maria Cristina Victorino de França
Vice-Presidente no exercício da Presidência

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Para que serve o Fórum

O Fórum permanente em defesa da Unir deriva diretamente do Comando de Greve. A greve acabou, mas os problemas da Unir continuam. Percebemos que fazer a revolução para tirar um tirano do poder foi mais fácil do que reerguer a universidade fragmentada, quebrada e abandonada.

Prezando pela transparência na gestão, decidimos nos reunir periodicamente para conhecer os problemas da Unir e conversar sobre eles. A reunião de hoje, em que os pró-reitores e suas respectivas equipes apresentaram um balanço da situação das pró-reitorias pelas quais são responsáveis, foi a primeira conversa coletiva sobre a gestão da universidade. Este tipo de reunião é muito importante para todos aqueles que se sentem professores e pesquisadores, mas não necessariamente participantes da gestão da universidade. É através destas reuniões que conhecemos as pessoas e as funções (e os problemas) da estrutura administrativa da universidade.

Consun se reúne na segunda

No site da UNIR está a seguinte convocação:

PAUTA DA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DO CONSUN, 19.12.2011
CONSELHO UNIVERSITÁRIO
CONSUN
Presidente: Profª Drª Maria Cristina Victorino de França
C O N V O C A Ç Ã O

A Vice-Presidente no exercício da Reitoria: Convoca os Senhores Conselheiros do Conselho Universitário – CONSUN, para uma sessão extraordinária no dia 19.12.2011, às 9h, no Auditório da UNIR/CENTRO, para deliberar sobre a Resolução 13/CONSUN de 19 de agosto de 2011.
          Em 13 de dezembro de 2011.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Data final do segundo semestre 2011

Foi decidido que haverá um período de recesso em janeiro e que o segundo semestre de 2011 termina no dia 24 de março de 2012.
Cada departamento pode distribuir as aulas a serem repostas como quiser (inclusive em janeiro, aos sábados etc.), contanto que alunos e professores concordem com as respectivas propostas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Nova equipe

Na reunião de hoje, a reitora em exercício apresentou sua nova equipe (conforme consta no BS):

Cláudia Waléria Carvalho Mendes Macedo - Chefe de Gabinete
Jorge Luiz Coimbra de Oliveira - Pró-Reitor de Graduação
Ivanda Soares da Silva - Pró-Reitora de Planejamento
Pedro Di Tarique Barreto Crispim - Pró-Reitor de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis
Valdir Vegini - Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Estevão Rafael Fernandes - Pró-Reitor de Relações Internacionais.

No intuito de trabalhar pela transparência na gestão, foram propostos encontros regulares dos pró-reitores no Fórum da Unir para que possamos acompanhar seus trabalhos. A primeira reunião desse tipo será no dia 14, às 9h no Paulo Freire.

Atos públicos

Aconteceu hoje um ato público em defesa da luta pela terra em Rondônia no auditório Paulo Freire. O texto foi coletado no site do DCE:


Ato em Defesa da luta pela terra em Rondônia 

No dia 7 de dezembro de 2011 será realizado no auditório Paulo Freire às 9:30 hs da manhã, no campus da Universidade Federal de Rondônia um ato de denúncia sobre a situação no campo. Nos últimos meses várias ocupações de terra em todo o Estado estão ameaçadas de despejo, lideranças são perseguidas, camponeses e povos indígenas sofrendo humilhações, tortura e ameaças de morte por parte de
latifundiários e seus bandos armados.
A gerência Dilma Roussef cortou gastos da reforma agrária falida, mas segue financiando o agronegócio com bilhões. Essa política serve apenas para aprofundar o papel do país como exportador de matéria prima barata, aumentando ainda mais a concentração de terras que é responsável pelas mazelas em nosso campo. Diante das tomadas de terra, Dilma aprofunda a criminalização da luta camponesa, tratando como
caso de polícia um problema social. Na fazenda Santa Elina, palco do massacre de Corumbiara, os camponeses que há mais de um ano ocupam as terras e lutam pelo reconhecimento de sua posse, agora sofrem ameaças de despejo por parte do INCRA e Ouvidoria Agrária Nacional.
Diante da gravidade da situação convidamos aos estudantes, professores, intelectuais honestos, advogados, artistas, entidades classistas, organizações sociais e o povo trabalhador em geral a participar deste ato para denunciar os recentes ataques contra os camponeses pobres e a luta pela terra. Contamos com sua participação! 
Organização: 
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
Associação Brasileira de Advogados do Povo

Apoio: 
DCE - Diretório Central dos Estudantes da UNIR
MEPR - Movimento Estudantil Popular Revolucionário


Abaixo, segue convite para ato público no sábado promovido pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente:

CONVITE           
           O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Maria dos Anjos-CDCA/RO, completa no dia 10 de dezembro 18 anos de existência  atuando na promoção, garantia e defesa dos direitos da criança e do adolescente.

           Filiado à Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente - ANCED,  o CDCA vem ao logo de sua história lutando contra todas as formas de violação aos direitos humanos de crianças e adolescentes, através da intervenção jurídico-social, mobilizando e articulando diversos atores sociais para garantir a efetivação da Política de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.

           Para marcar esta trajetória, convidamos os movimentos sociais e parceiros, que lutam por uma sociedade mais justa e solidária, para participar de um ATO POLÍTICO que será realizado neste dia 10 de dezembro - sábado,  na Praça Marechal Rondon, Centro,  às  9 horas.


           Oportunidade em que também estaremos chamando a  atenção da sociedade para as diversas formas de corrupção na administração pública e para as graves violações aos direitos humanos de crianças e adolescentes que vem ocorrendo no município de Porto Velho e em todo o Estado de Rondônia.


Francisco Marto de Azevedo
Presidente do CDCA/RO 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amanhã

No dia 06 de dezembro de 2011, acontecerá às 17h uma reunião no auditório Paulo Freire com a seguinte pauta:

1) votar uma coordenação que acompanha os trabalhos da gestão interina
2) aprovar uma carta de agradecimento pelo apoio durante a greve

Esperamos ainda que a reitora em exercício, juntamente com sua equipe, se apresentem à comunidade.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Bem-vindos

Este blog ainda precisa se organizar. Apostando em movimentos horizontais (e não hierárquicos), convidamos os que quiserem participar da construção deste blog a escrever para greveunir2011@gmail.com.
Vamos acompanhar a mudança da UNIR juntos.