Os historiadores chamam isso de "herança colonial". O povo brasileiro não vota em partidos, mas em pessoas. Não vota em programas ou projetos, mas em indivíduos. Depois que o Brasil perdeu seu referencial de poder (a coroa portuguesa), mudou a estrutura de poder. Não era mais uma pessoa que centralizava as decisões: na república, as decisões do presidente eram submetidas a votação. No entanto, os eleitores ainda justificam seu voto neste ou naquele candidato porque "ele vai fazer tal coisa". Herança colonial: o presidente não é rei, não tem liberdade para fazer qualquer coisa.
Na universidade, há uma estrutura hierárquica de tomada de decisões, mas o reitor não é REI. Todas as decisões do reitor devem ser apreciadas pelo Conselho Superior. Na gestão passada, tivemos um reitor que driblava o CONSUN com decisões ad referendum. Na gestão passada, o CONSUN não se reunia regularmente. Na gestão passada, os conselheiros agiam como indivíduos desligados uns dos outros, que não trabalhavam pelo bem da coletividade: o bom funcionamento da universidade.
Tanto na república como na universidade, deve prevalecer a democracia, ou seja, todos participam da tomada de decisões. O trabalho agora consiste em fortalecer a coletividade. A universidade precisa abandonar seu caráter de faculdades integradas, em que cada indivíduo, departamento ou núcleo faz o que bem entender. A universidade não precisa eleger um(a) reitor(a), mas um grupo coeso de pessoas que se comprometam com a administração da universidade. E quanto mais pessoas houver fiscalizando o processo, menos corrupção acontecerá.
Qualquer professor (doutor) pode ser candidato a reitor e quem determina quem será o dirigente máximo da universidade não é o destino, o berço nem o Papa. Já tivemos um indivíduo centralizador sentado na cadeira do reitor. Precisamos aprender com as armadilhas do poder concentrado num indivíduo e arriscar uma gestão compartilhada.
É preciso lembrar que o ex-reitor renunciou depois das denúncias de desvio de verbas e depois que sua vida pessoal foi exposta. Se houver gestão compartilhada, a vida pessoal d@ reitor(a) não será interessante para a oposição, já que o poder não estará centrado na figura d@ reitor(a), pois a responsabilidade pela universidade estará disseminada pela sua equipe de conselheiros, pró-reitores, acessores e fiscalizadores.
2 comentários:
Ótimo texto, principalmente a seguinte parte: "A universidade precisa abandonar seu caráter de faculdades integradas, em que cada indivíduo, departamento ou núcleo faz o que bem entender." Isso acontece mesmo na UNIR e gera muitos problemas. Tomara que as pessoas passem a ter essa consciência de UNIversidade.
Só um lembrete: o voto, hoje, não é a síntese da democracia. Entre a escolha e o voto, tem um processo cuja herança não está descrita no texto, mas envolve: interesses, articulação e poder (este último mais evidente no que se resumiu a gestão universitária). Claro, nada disso está distante do tecido social e politico do qual fazemos parte. Walterlina Brasil
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