sexta-feira, 2 de março de 2012

Sobre a capacidade de se surpreender e superar

Há um ano vim trabalhar na Universidade Federal de Rondônia-UNIR - ou o que sobrou dela. Espantei-me com o que vi quando aqui cheguei. Surpreendeu-me o estado de coisas, o abandono, a ausência de tudo, desde o básico até a dignidade de professores, estudantes e técnicos, os quais eu encontrava pelos corredores escuros e mofados ou pelos caminhos enlameados e tomados pelo mato do campus de Porto Velho.
De fato, fui tomado por aquele sentimento com o qual uma das mais importantes “teóricas políticas” (como ela gostava de se intitular) do século XX, Hannah Arendt, descreveu como sendo a “capacidade humana de se surpreender com as coisas”. E desde então surpresas não me faltaram.  Surpresa com a apatia, com as atitudes, com a fala de alguns. Concordo com Arendt quando ela defendia esta necessária atitude de se surpreender e reagir. Pois caso contrário, passa-se a achar que tudo é “natural”, banaliza-se o que deveria ser combatido. Tornam-se atitudes banais: o abandono, a corrupção, a má gestão, a mediocridade, a hipocrisia.
“Naturaliza-se” o fato da única universidade pública do Estado, que conta 30 anos de existência, que tem cerca de 9 mil estudantes, ter apenas 576 professores,  ter apenas 287 técnicos. Torna-se banal uma Universidade Federal que tem 56 cursos, 7 pós-graduações e 8 campi não ter banheiros funcionando, não ter bibliotecas adequadas, não ter Restaurante Universitário, não ter salas de aulas, não ter laboratórios, não ter Hospital Universitário, não ter Colégio de Aplicação, não ter gestão.
Eis que ouço um grito. Espanto, indignação, revolta. Uma greve, professores. Estudantes, ocupação. Um basta. Uma renúncia. Um Fórum, mais surpresas, espantos. Uma campanha, uma luta, interior, mais surpresas, revolta, discussões, palavras e agora números, votos.

Hannah Arendt tinha razão: devemos manter a capacidade de nos surpreender sempre com tudo aquilo que não é “natural”, com tudo aquilo que não é digno do ser humano. Com tudo aquilo que não representa uma comunidade, um coletivo, uma Universidade. Avante todos aqueles que lutaram durante a greve, avante a todos aqueles que acreditam no coletivo, neste Fórum Permanente em Defesa da UNIR e na força que, se nos UNIRmos, teremos!  
Vamos unir a UNIR, vamos reconstruir a UNIR vamos consolidar a UNIR.

Marcelo Sabino - Professor de História - UNIR

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